segunda-feira, 4 de outubro de 2010

QUEM TEM MEDO DE CAROLINA HERRERA????






A história começa em Caracas. Inclui uma casa com 65 divisões na Venezuela. Passa pela alta sociedade britânica e fala de uma mulher que chegou a Nova Iorque e acabou por vestir Jaqueline Kennedy Onassis. Uma saga de sucesso.
Maria Carolina Josefina Pacanins y Niño, Carolina Herrera para o mundo, nasceu em Caracas há 71 anos. Vive nos Estados Unidos desde o início da década de 80. Foi lá que construiu o seu império, mas sem perder o sotaque da Caracas natal. É este negócio cosmopolita que começa a ser passado para as filhas, sem nunca perder de vista a forte imagem da fundadora. As roupas de Carolina Herrera parecem desenhadas para ela própria e para mulheres como ela. Como as suas quatro filhas. Mulheres com cintura fina, ar de meninas bem nascidas e educadas em colégios religiosos. Mais mães do que profissionais altamente competitivas. Mulheres que não perdem e não precisam de perder a compostura.
A assistência do seu desfile, numa manhã da NY Fashion Week, comprova esta ideia. Parecem ser todas amigas que se encontraram para um almoço. Não há celebridades, há compradores, clientes, amigos e, sobretudo, família. As filhas e um neto, o marido, são estas as pessoas que ocupam a primeira fila. Todas parecem vestir Carolina Herrera.
Impassível, Carolina não perde o ar fleumático. Nem no fim do desfile, enquanto recebe os cumprimentos e agradece as palmas, nem quando está a servir de cicerone à mais temida mulher da moda norte-americana. A visita de Anna Wintour, a diretora da "Vogue" norte-americana, à loja da marca na Madison Avenue, em Nova Iorque, provocou excitação e tensão na equipa de Carolina Herrera. Ela também estava tensa, mas nunca desceu do seu pedestal distinto, nunca perdeu o sorriso bem educado.
Carolina à sua imagem 
Vestida com a sua imagem de marca - calças pretas e blusa branca -, Carolina não conseguiu, contudo, esconder a sua essência latina. A forma como mexe os braços, apoiando as mãos levemente sobre a parte de trás das ancas, faz lembrar o movimento de uma dançarina de flamenco. Talvez seja esta a razão do seu sucesso: promete elegância conservadora, mas com uma pitada de sensualidade. Nada que choque. Tudo muito bem educado.
A coleção primavera-verão 2011 traz flores pintadas à mão, grandes chapéus que conseguem mesclar a inspiração nos agricultores de arroz na antiga Indochina e os chapéus dos cavaleiros andaluzes, sapatos que remetem para os equilíbrios dos calçados nipónicos, um vestido fundamentado na roupa tradicional das mulheres coreanas. Mas, no fundo, tudo parece desenhado para as mulheres cosmopolitas que frequentam batizados, cocktails, receções sociais. Mulheres que não suam, não se descompõem.
O início. Fruto da aristocracia sul-americana, Carolina Herrera nasceu em Caracas no ano em que a II Guerra Mundial foi declarada. Uma das quatro filhas de uma família cujas origens remontam à descoberta da América, o seu pai era aviador e por duas vezes chegou a ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela. A mãe e a avó eram conhecidas pela elegância e viajavam regularmente a Paris para fazer as suas roupas em casas como Lanvin ou Balenciaga. Algumas destas viagens foram acompanhadas por Carolina.
Educada sob forte disciplina, sabia exatamente como devia comportar-se. Na infância, diz, costurava roupas para as bonecas. Mas a adolescência levou-a para outros caminhos, especialmente a paixão por cavalos e pela equitação.
 Carolina e a sua história 
Aos 18 anos, casou com um jovem também de boas famílias venezuelanas, Guillermo Behrens Tello, de quem teve duas filhas. A relação durou pouco, menos de uma década, o que representou uma rotura com a tradição familiar. Carolina foi a primeira pessoa na sua família a divorciar-se. Voltou para casa dos pais e chegou a trabalhar como relações públicas do estilista italiano Emilio Pucci. Rapidamente retomou o contacto com Reinaldo Herrera, amigo de infância e que viria a tornar-se o seu marido e companheiro de sempre.
Foi então que se mudou, com as duas filhas do primeiro casamento e as duas filhas que teve com Reinaldo, para La Vega, uma mansão em Caracas com 65 divisões, património dos Herrera e construída em 1590. Regularmente considerada uma das mulheres mais bem vestidas da sociedade, aproveitou a fase dos seus 30 anos para embarcar numa vida jet-set, frequentando os mesmos locais que a princesa Margarida ou Andy Warhol.
A decisão. Em 1980, Carolina e Reinaldo decidiram mudar para Nova Iorque com as crianças. Interessada pelo negócio da moda, chegou a pensar lançar uma linha de tecidos, mas um amigo incentivou-a a abraçar o ramo da alta-costura. Outros amigos, como a mítica Diana Vreeland, editora de moda da "Harper's Bazaar" e da "Vogue" e ícone de estilo, apoiaram a ideia entusiasticamente.
No outono de 1980, Carolina apresenta em Nova Iorque 20 vestidos da sua autoria, confecionados pelo seu costureiro de Caracas. Os representantes de cadeias de lojas interessaram-se e quiseram comprar uma coleção inteira. De volta à Venezuela, aproximou-se do empresário de media Armando de Armas, de quem se tornou sócia. Rapidamente o negócio arrancou.
Carolina Herrera começou a ganhar maior notoriedade quando, em 1986, fez o vestido de casamento de Caroline Kennedy, a filha de Jaqueline e do então já falecido Presidente dos Estados Unidos, John Kennedy. Em 1988 lançou o primeiro perfume e, desde então, tem desenvolvido uma lucrativa linha de acessórios.
A maturidade. Com as filhas crescidas e avó já por várias vezes, Carolina ainda não fala abertamente de sucessão. Nota-se que gosta do negócio, que põe o seu dedo em tudo, acompanhada de perto pelo marido. Mas as filhas estão a chegar. Patrícia, na área da roupa; Carolina Adriana, nos perfumes. Para já. Tudo, discretamente, como a marca.
A mulher que afirma que "a elegância não se compra", é respeitada dentro da indústria e referida sempre pelas suas maneiras. Diz que não mente, até porque "é uma questão de boa educação". Quando respondeu ao "Questionário de Proust" da "Vanity Fair", Carolina Herrera disse que o seu maior defeito era a impaciência e que o maior medo era perder a memória. Sintomas de uma vida construída sobre a herança recebida e sobre a iniciativa de uma mulher que constituiu um império. Até porque o seu lema é "deixar sempre espaço para a fantasia".


EDITOR: VANDERLAN NADER (notorious magazine)EMAIL: vnader31@gmail.com
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